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primavera
mata
rouba
há vida
a vida
-fundando.

primaveras
trazem
balões
beijos
-choro.

dona das flores
terás
pecado
terror
tuas moças
descobria:
- as dele.

primavera
ou outono
o equilíbrio
ou a fúria
todos vocês
entristecem.

-Mara Leite, 24 de Setembro de 2018, ao lembrar que as flores machucam.

A outra e o letargo: O nome dela.

Imagem relacionadaEscutei gotas no chão, meu corpo também molhará-se, afundei mansamente pelos oceanos e todos os sonhos despertaram-me. O açoite e o céu negro, representações de um mesmo elo, ontem eu sonhei e lembrei: o nome dela. 

Ontem eu sonhei, porque não pensará mais nisso, por ocultar à face alheia a dor e o castigo.  

As ervas daninhas incomodavam-me mais do que agradará-me a aparência das flores, nesses dias não saí para o café ou cultivei poemas à margem do rio, raramente entregava os redemoinhos, no meu templo também canta silenciosa a angústia, e os seus filhos fazem cócegas indiscretas, sobressaltam a dúvida.

Ontem eu sonhei. Ainda não tomei café. Sonhei e gritei o nome dela, e mesmo dormindo entre minhas costelas não podes escutar o meu pedido tênue, o desespero de minha respiração. 

Eu vi a efígie -ela- chorei por não acreditar, você a tinha com frequência e eu...Eu, para depois, eu o antônimo da sensatez.  


A garota do seu sonho esquisito.

Domingo eu inventei a garota do seu sonho esquisito, era torpe e explícito, sexualmente ríspido e me causava nojo. 
Segunda eu a apaguei, como borboletas desvanecentes em auto estrada, torpe, não lembrará. 
Imagem relacionada
Terça, terça foi um dia difícil. Escrevi uma história com o nome dela e depois rasguei, pensando bem acho que vou publicar para que todos saibam, as minhas personagens são os fantasmas que nunca encontrei e as versifico me rasgando toda vez que vem. 
Quarta, lembrei da conversa. Senti asco e pena do que sou, senti raiva. Queria explodir pro mundo, não consigo produzir muita coisa, eu gozo para esquecer, mas até meu gozo é irado.  

Três, esse foi o numeral que começou a ecoar quando percebi, silenciosa: não haviam poemas ou musicas. É a terceira vez que saboreio. A terceira! 


-HÁ TERCEIRA! - represa rompante, escandalizo - dói. 

Aquele antigo poema se (re)inventou, significa novamente, é a OUTRA, do verso que escrevi: só eu não pertenço. 
Você me engana e eu escuto metal sinfônico para esquecer, ou(re)provar tudo

-Eu não esqueço. 

A maça

Resultado de imagem para a maçã raul seixas ilustraçãoQuando minha coragem perpassou o medo das coisas potencialmente fatais soube que tinha rompido. Encarei ininterruptamente aquela serpente em seu abrigo e não a temi, questionei-me qual seria a diferença da dor ocasionada por sua picada daquela que sentia no momento. Uma cobra em cativeiro é coisa leve, fácil, difícil é conviver com as agonias que a vida faz. 
E lá estava eu, marejada como mar salgado, cheia de correntezas e na superfície a aparente calmaria assustará-me: a criança que chorou com um arranhado, sente falta e manda lembranças. 
Outra criatura, pensava, mas depois entendi eu mesma estava me partindo, trocando de pele...

-AINDA TENHO MEDO DA CHUVA -continuo gritando- mas já não há abrigo. 



 

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Resultado de imagem para saudade balão tumblrVocê me deixou há pouco mais de um ano e não engasgou mais de minhas idiossincrasias. Não tenho noticias de sua vida, ou melhor dizendo, não compartilhei mais de suas intimidades e dores. Dói! 
Lembrei que seu aniversário ainda demora há chegar, esses dias foram os anos do amigo que comemorei silenciosamente, escrevi uma carta e não tenho a pretensão de a entregar, com minhas dobraduras ou com qualquer outra que se assemelhe, não pretendo a entregar, mas sinto falta do cheiro do cabelo dele. Também lamento dos teus olhos que me davam energia...Agora tenho poucas pessoas para presentear, e recebo poucos presentes também. Agora tenho quase ninguém além da saudade que vem e da antiga caixa de borboletas, nunca mais cataloguei espécimes, tem tempo que rodopiei e constatei amores, essa semana, contudo, me sentir feliz por ter surpreendido a ele e sentir tua falta, não pude lhe comunicar, hoje são mais de trezentos dias, algumas penumbras e esse vazio que me devora por não poder evocar tua presença, por não ter como pronunciar isso a outros. 
Não tenho muitas pessoas para presentear, sinto o cheiro do cabelo e da insanidade batendo novamente a porta. 

A epiderme do lobo.

Lá pelas quatro da manhã tremia de frio, tentei uma ou duas vezes me aquecer com os lençóis que dividíamos na cama, não havia edredom suficiente para minha pele, para o meu desejo. Eis que o ardor veio no tocar de epidermes, estava nua e me acolhia sobre suas próprias carnalidades. Não devia ter passado nem um minuto na sucessão de fatos, da procura alucinante pelo o lençol e depois pela a saciedade na epiderme crua na minha frente, ainda eram quatro da manhã, suponho, pela tonalidade do céu que se deixava passar pelos feixes do teto no quarto, ainda era quando os meus lábios lhe beijaram os ombros e sutilmente seus anseios suspendidos no sono responderam instintivamente, o arrepio da alma.
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Tendia a acordar lá pelas três para lhe ver degustar de teu sonho e ouvir as afeições que eles poderiam trazer, mas hoje era o frio que me acordava e ao velar teu sono, eu também o profanei.  Já não sentia frio, apenas dançava blues com os meus dedos sobre tatuagens e lobos, consumia-me por mim mesma.


O sol sequer havia nascido quando o teu sono era revelia de ti e os teus lábios gélidos tocaram nos meus. Já não sabia que horas eram, ou quanto havia passado, já não sentia frio, somente o tocar constante de tuas mãos em montes e segredos e depois o compactuar quase fatalístico de nós dois, em simbiose silenciosa.

Não sabia do tempo que passava lá fora, éramos simbiose e o som das gotas que pingavam em telhados e gatos perpassou o silêncio de nossas carnes, o êxtase vazio e melodramático chegou primeiro para mim e antes que contasse era o lobo que se curvava por minhas afeições e pálido se dispunha do arranhar constante e se despedia também. Deveria ser uma eternidade quando acolhidos por pecado e epiderme o sono nos levou.


Estrelas do mar.

Resultado de imagem para estrelas do marViagens me esperam para algum dia, é a brisa do mar que me evoca num sussurro tímido e convincente e é sobre esse pretexto o desnudar de todas as noites, no travesseiro memórias que não me evocam. Sinto que talvez renasça de suas nuances, espero que a morte em pequenez possa se enterrar sobre pés que me despejam em cantos finitos.

Ando fria e a desmesura que se faz por conta disso me tira o fôlego e no fim a própria paz. É a décima segunda vez que quero queimar papéis, arranhar discos e enlouquecer completamente desse dia que foge de meus anseios. Sei que nem mesmo o mar será capaz de sanar a angústia nascente, ou esses olhos gelados em exaustão. É também a primeira vez que não quantifico sobre a possibilidade de ser algo mais. Me apeguei a este sentimento e mesmo quando torço pelo seu funeral, sou eu fúnebre que continuo padecendo de luto.

Ah, como vou eu mesma padecer dentre ondas e me enterrar sobre estrelas do mar, também será toda a extensão do universo que contemplará todo o percurso de minha carne apodrecida e mórbida, por fim serei acolhida por águas vivas e toda a areia do mundo deixará feixes da dor obtusa e desmedida. 

Para depois, acordar como quem renasce do fim e pestanejar outro amanhã, e desejar o mesmo querer e o ardor das peles simbióticas e absortas.

O oceano ainda me espera para algo mais...

Sobre grãos de ervilha e colchões.

Sempre perco um pouco de mim toda vez que me ponho a escrever. Ora, pois, o oficio surgiu da necessidade de me pausar nas entrelinhas do caos que criei ao longo dos anos. Agora, toda vez que a escrita advém, todos os textos e poemas que nascem necessitam de todo um rito simbólico de concepção, é a caneta com a dosagem certa de tinta, a folha sem pautas e o computador que nunca funciona corretamente, são essas pequenas manias que concebemos ao longo dos textos que fazem com que de meu nascer primeiro se risquem palavras insuficientes e inconstantes.

É no ato que ficam as intenções, mesmo o que vulgarizo está sempre e veladamente censurado. Como iria sujar a imagem da doçura velada e mesmo do azedume que se faz em alguns instantes? Foi no escrever dos amores tépidos e alheios que rasguei toda a vergonha deles e agora as perguntas infundadas ecoam mais e mais nos meus sonhos para que consiga aceitar as falhas que me acompanham.

Ah, como mesmo nessas confissões existem entrelinhas e palavras obtusas, por conta da falta de coragem e ousadia de minha persona e do egoísmo dessas histórias. Lamento profundamente retroceder da finitude do que é. E mais ainda, já não posso suportar esse apagar de luzes, essas palavras que não se compreendem e se fazem mal ditas e malditas por mim.

Algum dia ei de aprender a ignorar o grão de ervilha sobre os lençóis e me deitar sem o temor do que aquela ervilha poderia me fazer, de como eu mesma a posso magoar. Um dia o grão de ervilha se torna agradável e, se ela não mais se fizer presente sou eu mesma que vou sentir a falta do que antes era incômodo e indesejável.

Finalizo sabendo que essas metáforas nunca serão sobrepostas ou compreendidas verdadeiramente, em algum momento eu mesmo esqueci o que significavam e para quem eram significante, em algum momento deste transcorrer a ervilha é apenas uma ervilha e não o faltar, a inconstância e o egoísmo.

Como esquecer o grão de ervilha sobre o colchão? 

Pelo o direito de ser intensa.

Começo dizendo a mim mesma que nunca terei uma coordenação motora tão desenvolta como num sábado épico sobre todas as doses possíveis de vinho ao som do meu velho Joe Cocker. Pressinto que nunca existiu mulher tão bem preparada para uma dança que envolva o despir e as encenações de face como eu; comunico também que meu espelho é exímio telespectador de minha melhor e mais sensual dança.

As minhas peculiaridades se instalam no momento em que me encaro destoante da grande massa, me percebendo com o andar de um pinguim que nunca cheguei a conhecer. 

Os meus gêneros musicais são dos mais variados, dentro de um circulo especifico, confesso. Também rememoro aptidão para me ater demasiadamente as outras pessoas e escrever sobre isso, nunca haverei de deixar um amor passar sem que este se faça presente de meus versos e fique sacramentado dentro de minha risória ocasional. 

Descobrir esses dias que alguns amores não podem ser recíprocos, que o tempo nunca determinada muita coisa, mas continuo persistindo, também descobrir muito cedo minha tendência para com a perseverança. Poucos minutos atrás, me dei conta de que não posso me equiparar ou deixar que qualquer outra pessoa faça isso de mim, me constitui única para continuar me distanciando ainda mais das normas alheias, isso me faz feliz, isso deveria fazer as pessoas felizes. 

Rezem e condenem à norma! Não se submeta a qualquer tipo de adaptação por outro alguém não admirar a tua mania irritante de distribuir beijos e marcar todos os amigos presentes, não desmereça sua forma de entornar todos os beijos como se eles estivessem sendo transmitidos a um mundo de românticos e piegas, não se ridicularize e nem retroceda nas tuas cartas verborrágicas com termos que podem ser estranheza para algumas pessoas.

Espera que algum dia vão lhe amar intensa e imensamente por todo o acervo de manias e esquisitices que possui, por essa constância de porquês e essa irritabilidade que é planejar o dia como se não houvesse outros. Entrega-se na tua próxima dança, se livre de todas as pequenas inseguranças e desnude essa alma inteira... inteirinha. Não para que acreditem que você possa ser amada, mas para que você deixe transbordar em si esse amor único e perpetuo que somente a dona de um desvio tão intenso de outros, poderá sentir.
 

 

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